Paralelamente à leitura do texto original de Emily Brontë e da tradução de Rachel de Queiroz, eu pesquisei e encontrei referências interessantes, que me ajudaram a contextualizar melhor a obra na história da literatura, seu lugar entre os maiores romances já escritos, e por aí vai. Então, neste post, vou indicar algumas fontes que considerei bastante válidas a título de complemento à leitura de O Morro dos Ventos Uivantes.
– “A tarefa do tradutor” (Walter Benjamin): esse texto é clássico para os estudos de tradução literária. Não se trata de algo muito longo e é importante sobretudo por debater questões sobre conteúdo e língua num paralelo entre original e tradução. Benjamin fala de “restituição de sentido”, “simbolizante” e “simbolizado” e deixa uma conclusão que dá a ideia de quão dura é a proposição do título desse texto:
“A tarefa do tradutor consiste em redimir na sua própria língua esta língua pura que está desterrada em terra alheia, descativá-la da obra em que está presa, dando-lhe forma poética.”
– “Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes” (Virginia Woolf): não li ainda Jane Eyre, mas o texto de Virginia Woolf, que tem uma importante produção relacionada à crítica literária, foi muito útil na análise sobre a obra de Emily Brontë.
“É como se Emily fosse capaz de estraçalhar tudo o que sabemos sobre os seres humanos e preencher essas transparências irreconhecíveis com tal rompante de vida que eles transcendem a realidade. Seu poder portanto é o mais raro de todos.” (O valor do riso e outros ensaios, p. 163)
– “A tradução literária no Brasil” (José Paulo Paes): um ensaio cuja leitura foi bem importante para o meu estudo porque contextualiza a atividade da tradução no mercado editorial brasileiro. O autor oferece vários detalhes interessantes, inclusive sobre nossos grandes autores que trabalharam como tradutores. Ele cita Rachel de Queiroz nesse grupo, mas não faz comentários específicos sobre ela. Já sobre Monteiro Lobato, ele diz o seguinte:
“A rapidez com que era compelido a trabalhar – e essa parece ser a sina de quantos tenham de traduzir profissionalmente para viver – não permitia a Lobato burilar as suas versões, que, se nem sempre modelares, são sempre fluentes, agradáveis de ler.” (Armazém literário – ensaios, p. 175)
– “As traduções de Rachel de Queiroz na década de 40 do século XX” (Priscilla Pellegrino de Oliveira): esta é uma monografia produzida para a Faculdade de Letras da Universidade de Juiz de Fora. O título é autoexplicativo e, apesar de não mencionar nada específico sobre a tradução da obra de Emily Brontë, é interessante observar que Priscilla faz algumas comparações, inclusive em relação à atividade tradutora de Rachel de Queiroz e a de Monteiro Lobato.
“A presença da língua do original na língua da tradução caracteriza um procedimento estrangeirizante. Isso significa que ela atuou de maneira diferente à de Monteiro Lobato, por exemplo, o qual adaptava os textos que traduzia à realidade nacional brasileira se comportando como um tradutor domesticante. O uso de tais termos pela autora prova sua contribuição para a mudança de língua de cultura no momento histórico em questão, acrescentando expressões do idioma no cotidiano do brasileiro.” (p.72)
– “A tradução do socioleto literário: Um estudo de Wuthering Heights” (Solange Peixe Pinheiro de Carvalho): essa dissertação de mestrado foi produzida para a Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo e está repleta de informações valiosas para quem quer entender melhor o processo de tradução empreendido por Rachel de Queiroz. A autora também faz paralelos com traduções de O Morro dos Ventos Uivantes para outros idiomas, estabelecendo comparações válidas. Eu havia comentado, no post anterior deste projeto sobre o fato de Rachel de Queiroz ter optado por não conservar os traços linguísticos do dialeto falado por Joseph. A esse respeito, Solange observa que as formas dialetais foram adequadas para o padrão em praticamente todos os idiomas traduzidos, à exceção do francês, país que conta com variantes do francês-padrão, o que pode justificar a inclusão de marcadores para mostrar ao leitor que o personagem, em relação aos demais, não falava a língua culta (p. 205).
Essas foram algumas das referências consultadas por mim durante o percurso de leitura da obra de Emily Brontë. No próximo e último post deste diário de leitura, vou registrar algumas das principais impressões que essa experiência me ensinou.